Revista Portal de Divulgação – Construindo Saberes

Revista Portal de Divulgação – Construindo Saberes

Artigo apresenta o resultado de pesquisa e análise documental sobre acervo dos editoriais da Revista Portal de Divulgação, periódico eletrônico, no período 2010-2014. Buscou mapear as tendências da Gerontologia Social; apontar novos desafios na área; e identificar os princípios que norteiam a publicação quanto a construção de saberes.

Por Vera Maria Antonieta Tordino Brandão e Beltrina Côrte (*)

 

A Revista Portal de Divulgação – publicação trimestral em mídia aberta implantada em agosto de 2010 – é parte do site Portal do Envelhecimento, e tem mantido compromisso de periodicidade com seus leitores. Seu objetivo é publicar trabalhos e relatos de experiências na área do envelhecimento, além de entrevistas, depoimentos, resenhas e crônicas, não necessariamente de caráter acadêmico, que possam trazer à reflexão o sentido da existência humana. Destacamos o espaço dado aos idosos, considerando-os produtores culturais, fazendo ouvir a voz interior que nos fala sobre o viver e o envelhecer.

No primeiro editorial, de agosto de 2010, já se afirmava como diretriz da publicação: “Um espaço virtual destinado à divulgação sobre o que se está pensando, fazendo e pesquisando sobre o envelhecimento, a velhice e a longevidade”. O acervo da Revista Portal de Divulgação no período analisado (2010-2014) é composto de 41 edições, com 318 artigos; 37 reflexões; 15 relatos de experiência; 12 entrevistas; 10 crônicas e 9 resenhas.

Este trabalho é recorte sobre os documentos arquivados, privilegiando a análise dos 43 editoriais no período referido, tendo como metodologia a pesquisa e análise documental, ainda pouco utilizada na análise de documentos não históricos, retratando o panorama e possível caminho para o conhecimento de área determinada. É derivado dos estudos realizados no estágio pós-doutoral realizado no Programa de Estudos Pós Graduados em Gerontologia – PUC/SP, no período 2014-2015, no tema Longevidade, Educação Continuada e Mídias, com a supervisão da Profª Dra. Beltrina Côrte e apoio CAPES.

Descobertas

a) Diálogos – Na análise realizada examinamos cuidadosamente os documentos indicados, recorrendo diretamente às fontes primárias das quais extraímos trechos pontuais, não assinalados por que mesclados com reflexões que se impuseram e sobre as quais realizamos uma reescrita, buscando indicar as bases constitutivas da publicação. As questões primeiras indicam que possíveis respostas, ante a complexidade do tema, só podem surgir do diálogo que pressupõe as falas e a escuta, verdadeiras e sensíveis, que encontrem ressonância e sentido nas partilhas.

Como elaborar estratégias objetivando oferecer espaços de diálogo na educação e cuidado ao longo da vida que considere integralidade do ser? Apenas leis de proteção, e seus dispositivos institucionais, não garantem a desejada longevidade com qualidade, pois muitos são os fatores que fragilizam os indivíduos ao longo da vida, e duplicam o sofrer dos mais velhos – nos aspectos biológicos, psicológicos, sociais e existenciais. Essa realidade exige atendimento e cuidado multidisciplinar e multiprofissional no planejamento, e interdisciplinar na ação de atenção e cuidados. Os profissionais, de diferentes áreas, mesmo bem formados, não podem enfrentar sós as complexidades expressas pelo ser humano ao longo da vida, especialmente os mais fragilizados com a passagem do tempo.

A formação continuada de profissionais, de familiares e idosos, e a articulação de seus saberes, fazem surgir o reconhecimento próprio e do outro – gerador da empatia – sentimento que pode indicar e favorecer uma mudança social e novos modos de enfrentamento das condições adversas no processo de envelhecer. Aprendemos ao longo da vida, e mantendo o espírito aberto a novas experiências podemos favorecer, sem medos e preconceitos, a cultura da longevidade.

b) Educação Continuada e Formação do Profissional – A educação continuada, como expressa nos editoriais, é processo de aprendizagem e formação permanente, articulando conhecimentos formais e informais em diferentes idades; da abertura para troca de experiências e conhecimentos diversos; do respeito à diversidade; do diálogo e parceria. Valorizar a construção de saberes em rede, como responsabilidade social, destaca os saberes-fazeres de todos os cidadãos na constante busca de melhores soluções frente à complexidade inerente a todas as etapas da vida. Objetiva-se a mudança na implantação de projetos inovadores, para transformar e construir novo imaginário social a respeito das diferentes fases da vida, favorecendo as trocas intergeracionais e subsidiando a construção e efetivação de políticas públicas adequadas.

O projeto de educação continuada deve ter sentido para os participantes que buscam renovação ou início do caminho do conhecimento – aventura de descobertas -, que implica diálogo, parceria, respeito e integração de intersubjetividades, desafios que exigem clareza dos objetivos, tempo de reflexão e de espera, no qual seja praticada a difícil arte da humildade ante o saber-fazer dos demais e diante das limitações recíprocas.

A educação continuada em Gerontologia é tarefa exigente. As questões teóricas indicam a imperiosidade da apreensão do processo de envelhecimento como questão complexa, baseadas em saberes de diferentes áreas – sociologia, psicologia, antropologia, serviço social, economia, política, direito, biologia, filosofia, entre outras – para compreensão abrangente e substantiva. Saberes que devem ser pensados nas relações e interfaces próprias da interdisciplinaridade. Refletir sobre o envelhecimento e a velhice, nessa perspectiva, sugere o desenvolvimento de novo olhar, novo pensar sobre os vários significados e dimensões do longeviver.

c) Longevidade e Mídias – O acesso democrático ao conhecimento em mídia aberta é um dos principais objetivos do Portal do Envelhecimento e da Revista Portal de Divulgação, e uma das apostas na educação continuada na construção da cultura da longevidade, visando ultrapassar a lógica entre o que se promete, e o que se cumpre. Acreditamos que o poder não está no ter, mas no saber. O saber igualitário é arma poderosa na reivindicação e aplicação dos direitos conquistados, caminho para a formação ao longo da vida na perspectiva existencial, a educação como revelação dos outros e da condição humana.

A divulgação de novos saberes, experiências, reflexões e questionamentos a respeito do envelhecimento e longevidade humanos, por meio da Revista Portal de Divulgação e seus editoriais, busca questionar e discutir a formação acadêmica e os projetos de educação continuada seja para os profissionais ou para a sociedade, incluindo a participação ativa dos idosos, sob a égide da ética e solidariedade, na partilha de saberes e experiências que possam ser apropriadas de modo democrático – de todos para todos.

A diversidade na abordagem ao tema envelhecimento tem sido a marca da Revista Portal de Divulgação, e os editorais não indicam simplesmente os artigos apresentados, mas articulam os conhecimentos por eles trazidos – um trabalho de ‘artesanato intelectual’ – buscando tecer a trama do saber gerontológico interdisciplinar.

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O lugar para se pensar sobre o envelhecimento e a longevidade é a própria sociedade, que se traduz como termo genérico e que serve, muitas vezes, como espaço de ambiguidade – O que significa? Os problemas sociais parecem soltos e as reflexões, estudos e políticas públicas não se viabilizam na prática. Poderíamos pensar: o termo de modo genérico incluiu todos os cidadãos, ou nenhum. A sociedade é constituída e construída por cada um de nós! Quando colocamos as responsabilidades na sociedade nos livramos do compromisso e peso pessoal, como se ela fosse um espaço externo a nós, e não o que construímos e habitamos!

A Revista Portal de Divulgação, analisada neste recorte por seus editoriais, coloca-se como favorecedora do diálogo social, por meio midiático e livre, trazendo informação, questionando, incitando o debate e assumindo responsabilidade de divulgação qualificada nas questões do envelhecimento e longevidade com vistas a práticas afirmativas.

d) Responsabilidade e Solidariedade – Agrupamos, neste ponto, o que consideramos qualidades e atitudes desenvolvidas, ou a desenvolver, na busca do longeviver de qualidade, conforme indicam os editoriais. São elas: coragem, responsabilidade, solidariedade, cuidado, respeito, olhar sensível, criatividade, integração, aceitação da diversidade, liberdade e ética. Destacamos responsabilidade e solidariedade, aos quais agregamos respeito e cuidado, que se entrelaçam e indicam a perspectiva ética que baseia a publicação. Verificamos que estes são termos muito empregados, mas não os vemos transformadas em ações, promotoras de vida digna para todos os cidadãos, ou seja, o pleno exercício da cidadania – direitos e deveres.

Constatamos que o termo cidadania se transformou, como outros, em uma palavra ‘guarda-chuva’, que abriga diferentes interpretações, mas expressão vazia de reais significados. Quem é o cidadão que deveria viver na premissa de uma cidadania plena?

Muito se fala sobre os direitos dos idosos e seu empoderamento, mas se não observados ao longo da vida, como devolver algo que nunca foi pleno, e do qual existe também desconhecimento? As leis existem, mas a realidade aponta sua frágil aplicabilidade. O preconceito e o estigma são ainda fortes marcas sociais, excluindo e colocando à margem todos os diferentes – categorização que inclui os idosos, que não produzem e não existem. Neste panorama onde encontrar o respeito, a aceitação das diferenças e integração?

Verificamos que muitas atitudes fundamentais no trato humano não são observadas, impedindo que os lugares da velhice sejam adequados ao bem estar dos mais longevos. O progresso e avanço científico conquistado nos últimos três séculos é notável, com reflexo em todos os níveis da vida: a medicina e seus recursos tecnológicos cada vez mais sofisticados; o crescimento e organização das cidades modernas, com infraestruturas consolidadas; o acesso crescente à educação básica e, primordialmente, leis que asseguram direitos democráticos a todos os cidadãos. No entanto, e apesar das conquistas, a desigualdade, regra em séculos passados, ainda persiste.

As leis garantem e normatizam o acesso aos crescentes benefícios sociais, resultados do progresso, especialmente na saúde e assistência social, mas ainda necessitamos de perspectiva educativa em ações concretas no esclarecimento desses direitos, e decorrentes ações.

Leiam o artigo na íntegra na Revista Portal de Divulgação Nº 54, Ano VIII – Out/Nov/Dez 2017, clicando aqui

(*) Vera Maria Antonieta Tordino Brandão – Pedagoga (USP). Mestre e Doutora em Ciências Sociais – Antropologia (PUCSP). Pós-doutorado em Gerontologia Social (PUCSP). Pesquisadora CNPq (PUCSP). Editora da Revista Portal de Divulgação. E-mail: [email protected].

Beltrina Côrte – Jornalista, doutorado e pos.doc em Ciências da Comunicação pela USP, docente do Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia da PUCSP e coordenadora do grupo de pesquisa certificado pelo CNPq  Longevidade, Envelhecimento e Comunicação. Integra a Rede Iberoamericana de Psicogerontologia (Redip) e é editora de conteúdo do Portal do Envelhecimento e da Revista Portal de Divulgação. Site: E-mail: [email protected]

 

 

 

 

 

 

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