Quer dormir comigo?

Quer dormir comigo?

Uma história sobre o amar, sobre o envelhecer e as tantas possibilidades que a vida oferece – mesmo que, talvez, pareça tarde demais. Um brinde ao carinho tendo Jane Fonda e Robert Redford como protagonistas sensíveis e cheios de esperança, elegantes até quando a máxima é a simplicidade.

 

E então um dia Addie Moore fez uma visita a Louis Waters, seu vizinho há décadas. Foi um fim de tarde em maio, pouco antes de escurecer completamente.

– Addie: Será que posso falar uma coisa com você?

Constrangido, sem saber bem a razão daquela inusitada visita, Louis, responde: Quer tomar alguma coisa, um chá?

– Addie: Não, obrigada. É possível que eu não fique aqui tempo bastante para terminar de tomar o chá. Você deve estar se perguntando o que vim fazer aqui […]. Quero fazer uma sugestão para você.

– Louis: Sugestão?

– Addie: É. Na verdade é uma espécie de proposta e… não é de casamento. Bem, tem um pouco a ver com casamento. Só que agora eu não sei se vou conseguir. Estou perdendo a coragem.

– Louis: Pode falar que eu estou ouvindo.

– Addie: O que você acharia da ideia de ir à minha casa de vez em quando para dormir comigo?

Então, caro leitor, daí para frente, deixo para você imaginar o romance; Jane Fonda, na pele da destemida Addie Moore e Robert Redford como o respeitoso Louis Waters em “Nossas noites”, Our souls at night.

Viúvos e septuagenários, os dois lidam diariamente com noites solitárias em suas casas grandes; vazias de companhia, de palavras, de troca.

– Addie: É que nós dois estamos sozinhos. Já há muito tempo. Há anos. Eu me sinto sozinha. E acho que é possível que você também se sinta. Então fiquei pensando se você gostaria de ir para a minha casa à noite e dormir comigo. E conversar.

Se você pensa que a motivação desta ainda bela e elegante senhora seja o sexo, enganou-se. Segundo ela e, talvez, um pouquinho de todos nós, “as noites são a pior parte”.

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É que quando a luz do dia se vai, parece que todos os fantasmas, ou melhor dizendo, nossa sombra decide por revelar sua pior face: o inevitável da solidão que, diga-se de passagem, não é própria da velhice, mas sim da vida tecida ao longo dos anos.

– Addie: Estou falando de ter uma companhia para atravessar a noite, para esquentar a cama. De nós nos deitarmos na cama juntos e você ficar para passar a noite. […] Uma pessoa gentil. O que você acha?

“Nossas noites” é baseado no livro de Ken Haruf, dirigido por Ritesh Batra e produzido pelo mais do que nunca belo Redford, no auge dos seus 81 anos.

Sobre o romance, ele explica: “Resolvi fazer esse filme porque, primeiro, percebi que o negócio do cinema está muito voltado para o público mais jovem, e é preciso satisfazer também o espectador mais velho. Em segundo lugar, queria mostrar que as histórias de amor continuam vivas na terceira idade. Terceiro, queria fazer um novo filme com Jane antes de morrer”.

E Jane, já com 79 anos, brinca: “‘Descalços no parque’ [em referência a comédia romântica, de 1967, protagonizada pelo casal] falava sobre um jovem casal apaixonado que se casa e descobre as idiossincrasias do amor; aqui vemos dois idosos que haviam esquecido o que era ter alguém redescobrindo o que é uma paixão. Na verdade, vivi para fazer cena de sexo com Robert. É uma pena que este novo filme não mostre nenhuma” [risos].

Resumindo: “Nossa noites” é uma história sobre o amar, sobre o envelhecer e as tantas possibilidades que a vida oferece – mesmo que, talvez, pareça tarde demais. Um brinde ao carinho com protagonistas verdadeiros em suas atuações, sensíveis e cheios de esperança, elegantes até quando a máxima é a simplicidade.

São tantas as possibilidades, e, com o tempo, acho que ficamos melhores nos carinhos, nas carícias, no toque, na sedução. Então, se você acha que os muitos anos de vida já não permitem amar, lembre da adorável Addie – livre, delicada, atenta, amorosa e apaixonada pelos instantes, mesmo breves.

“E vamos continuar, até quando pudermos […]”.

Referências

HARUF, Kent. Nossas noites. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

 

Luciana Helena Mussi

Engenheira, psicóloga, mestre em Gerontologia pela PUC-SP e doutora em Psicologia Social PUC-SP. Membro da Comissão Editorial da Revista Kairós-Gerontologia. Coordenadora do Blog Tempo de Viver do Portal do Envelhecimento. Colaboradora do Portal do Envelhecimento. E-mail: [email protected].

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Engenheira, psicóloga, mestre em Gerontologia pela PUC-SP e doutora em Psicologia Social PUC-SP. Membro da Comissão Editorial da Revista Kairós-Gerontologia. Coordenadora do Blog Tempo de Viver do Portal do Envelhecimento. Colaboradora do Portal do Envelhecimento. E-mail: [email protected].

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