Os segredos da longevidade no mundo

Os segredos da longevidade no mundo

Como será viver séculos diferentes? Admiráveis são as pessoas que atravessam o tempo, rompem preceitos e as próprias barreiras e limitações da saúde. Além do que, talvez o mais complicado, enfrentar a passagem dos amigos, inimigos, amores, paixões, familiares…São tantos os vínculos que construímos ao longo do tempo que se torna muito difícil citar todos os encontros da vida.

 

Algumas recentes reportagens trazem um pouco a experiência de pessoas que vivem uma vida longa. De Cuba a Itália, passando pelo Brasil, conhecemos um pouco mais quais são os segredos para se viver tanto tempo aqui na Terra:

Cuba

“Juana Bautista de la Candelaria nasceu em 2 de fevereiro de 1885. Ela tem 126 anos e seus olhos que hoje não enxergam mais viram passar as páginas dos calendários de três séculos diferentes. É a pessoa mais antiga da ilha caribenha e, sem sombra de dúvida, uma das mais idosas de todo o mundo”.

Conta a reportagem de Soledad Álvarez (Os segredos da longevidade em Cuba) que, Cuba, cujo envelhecimento populacional é similar ao de países do primeiro mundo, possui atualmente 1.551 pessoas com mais de cem anos de idade. Até um clube foi formado, “O Clube dos 120”, onde é defendida uma longevidade satisfatória e ativa com a convicção de que se pode chegar aos 120 anos se forem adotados ao longo da vida os hábitos e as atitudes adequadas.

Aí está a questão, “hábitos e atitudes saudáveis”. Como conseguir isso, muitos perguntam. Já sabemos que a alimentação é determinante, os exercícios físicos obrigatórios, mas como viabilizar tudo isso com a vida que levamos nas grandes capitais, onde o trânsito nos prende dentro de um carro ou transporte público por muito mais que uma hora? Ou um trabalho estressante, um casamento com problemas e filhos em situação de crise emocional? Talvez nem o super-homem consiga dar conta de tanta “pressão contemporânea”.

Já em Cuba, “Candulia” como é chamada carinhosamente, resume o segredo de sua longevidade: “É o que Deus quis me dar”, declara “a idosa franzina e de pele escura, tão frágil que parece de papel, que está cega e não consegue caminhar sozinha, mas é lúcida e dona de um invejável senso de humor”. Aos 126 anos, “Candulia” já perdeu o marido e dois de seus três filhos. Apenas Eleduvildo, de 78, ainda é vivo, mora com ela. “Só não quero morrer para não deixá-lo sozinho”, confessa a generosa senhora, diante do sorriso do já também idoso filho.

Um dos segredos da longevidade? Talvez seja essa simplicidade e fé ao falar de Deus. E por que não dizer de doses imensas de generosidade, como a dor de morrer e deixar o filho. Só mesmo uma mãe…

França

Claudia Collucci na reportagem para o Jornal Folha de S.Paulo, “Estudos procuram fórmula para chegar bem aos cem anos”, traz a longevidade da francesa Jeanne Calment (1875-1997), a que mais tempo viveu. Seu caso foi apresentado por grupos internacionais no Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, que terminou no sábado (26/05/2012) no Rio de Janeiro.

Contam os estudiosos que Calment andou de bicicleta até os cem anos, caminhou sozinha até os 115 e fumou até os 117. Costumava comer 1 kg de chocolate por semana e bebeu um copo de vinho por dia até sua morte, aos 122 anos.

Como explicar? Finalmente um caso de pessoa longeva politicamente incorreta nos hábitos e comportamento.

Collucci pergunta e responde: “Genes? Dieta? Exercícios? Atitudes positivas? Vida social? A ciência já sabe que a genética responde por até 30% da longevidade. O resto está associado a estilo de vida e fatores socioambientais, muitos dos quais passíveis de mudanças e adaptações”.

Só no Brasil, já são quase 24 mil centenários, segundo o IBGE. Bahia (3.525), São Paulo (3.146) e Minas Gerais (2.597) são os Estados com a maior concentração.

Brasil (pesquisas)

Na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), um projeto reúne 245 idosos acima de 80 anos, sem queixas específicas, e os prepara para a chegada ao centenário. Ali, fazem exames, adequam medicações e recebem orientações sobre sono, memória, dieta e atividade física.

Maysa Seabra Cendoroglo, médica e professora de geriatria e gerontologia da Unifesp, afirma:

“Muitos dos nossos pacientes serão centenários a partir deste ano. Estamos avaliando o quanto é possível manter a sobrevida sem incapacidade física, mental, emocional e social”.

Maysa explica se é possível viver muito e chegar ao fim com independência: “A busca por essa resposta vem sendo motivo de muitos estudos. As propostas apontam para a necessidade de se manter uma boa dieta, uma atividade física permanente e prolongada e um estímulo cognitivo”.

Mesmo para que não tem “bons” genes? “Sim. Pode ser que você não chegue aos cem anos, mas vai chegar aos 80, aos 90, ativo, independente. O que importa é fazer o máximo que eu posso até o finzinho”.

Políticas

Tratar cada um de acordo com suas particularidades com abordagens diferentes para cada grupo etário de idosos. Assim pensa o médico Alexandre Kalache, que já dirigiu o programa de envelhecimento da OMS (Organização Mundial da Saúde): “Um idoso de 65 anos não é o mesmo de um com 80, que não é o mesmo de um de cem. Hoje colocamos tudo no mesmo saco”.

Para Kalache, o Brasil vai mal na execução de políticas que possibilitem um envelhecimento saudável, seja na prevenção de doenças que incapacitam o idoso seja em instrumentos que o protejam e que garantam seus direitos.

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Essa afirmação pode ser comprovada pelos resultados preliminares do estudo Sabe (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento), desenvolvido pela USP que já refletem um cenário nada cor-de-rosa. O trabalho monitora como os idosos de São Paulo estão envelhecendo.

Três grupos acima de 60 anos vêm sendo acompanhados. Um grupo começou a ser seguido em 2000, outro em 2006 e o último, há dois anos. Segundo a médica Maria Lúcia Lebrão, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, os “novos” idosos parecem estar mais doentes, com menos mobilidade, por exemplo: “A previsão é que as novas gerações de idosos sejam menos saudáveis. Temos ao nosso favor as novas tecnologias. Mas será que elas trazem mais qualidade de vida?”

Enquanto no Brasil caminhamos a conta gotas, alguns cidades no mundo podem ser um grande exemplo do “bom envelhecer”.

Povoado de Vilacamba (Equador)

Don José Medina parou de beber aos 106. De vez em quando, ainda toma “um puro” (aguardente), mas não mais de um por dia. Fuma, mas muito menos do que quando “era jovem”, ali pelos 70 anos. Aos 112, não conseguiu largar o chamico, cigarro feito com uma erva alucinógena.

Medina vive em Vilcabamba, um povoado com cerca de 4.000 habitantes no interior do Equador (650 km ao sul da capital, Quito) que a paranóia pela vida saudável ainda não encontrou. As condições sanitárias do local são um desastre –na maioria das casas, não há esgoto nem água encanada. Seus habitantes fumam, bebem álcool, comem muito sal, tomam muito café, usam drogas. E são um dos povos com maior proporção de pessoas centenárias no mundo, cerca de dez vezes mais do que a média. Centenários e saudáveis.

“Alguma coisa estranha acontece em Vilcabamba”, diz o médico e escritor argentino Ricardo Coler, um entre tantos profissionais que foram à cidade em busca de uma explicação. Sobre o mistério, ele escreveu “Eterna Juventud – Vivir 120 Años” (editora Planeta, sem previsão de lançamento no Brasil), em que relata histórias como a de José Medina.

Okinawa (Japão)

Seu Miyoshi está com 100 anos de idade e quer viver até os 125. Aos 92 anos, lançou um livro de memórias. Ele escreveu: “para conhecer as coisas novas, é preciso conhecer as coisas do passado”.

O segredo da vida longa estaria na cozinha? O professor Kazuhiko Taira estuda longevidade. Ele diz que os moradores de Okinawa comem menos sal e mais algas marinhas que os do resto do Japão. Consomem duas vezes e meia mais proteína de carne. A culinária local incorpora pratos exóticos, como a irabu, uma serpente do mar.

Loma Linda (Califórnia – EUA)

Adventistas dessa região estão entre os campeões da longevidade na América do Norte. Não bebem, não fumam e não comem carne de porco. Também desestimulam o consumo de outras carnes, alimentos muito gordurosos, bebidas com cafeína, condimentos e temperos considerados estimulantes.

A alimentação natural, abstinência de álcool, fumo e carnes, a prática de exercícios físicos e o hábito de leitura motivados pela religião, além da importância da fé e do apoio dos irmãos, como suporte emocional em todas as fases da vida, são determinantes para os moradores de Loma Linda.

Sardenha (Itália)

São 24 centenários a cada 100 mil habitantes (três vezes mais do que a média europeia). Além da dieta mediterrânea e do consumo do vinho, a longevidade é associada a deficiência de uma enzima (glicose-6-fosfato desidrogenase), que também teria criado um mecanismo de defesa contra a malária.

Os centenários da Sardenha estão concentrados em 50 pequenas cidades, cada uma delas com menos de três mil habitantes. A estrada que leva à região tem 100 quilômetros. Jovens sardos fizeram da área uma rota turística para enfrentar o desemprego. E adivinhe o que eles incluíram junto às atrações do turismo alternativo, junto às tradições locais? Os velhinhos centenários…

Como numa seleção natural, onde só os mais fortes sobrevivem, eles se salvaram, estão lúcidos e sadios. O tempo? Já não conta. “Tenho 100 anos nas costas. E são muito pesados. Estamos próximos do fim”, diz Efisio. “Agora esperamos o outro mundo”, ri.

Então, caros leitores, fiquem com a frase de Oscar Niemeyer, nosso mais ilustre longevo, alguém que tem a coragem de desafiar o tempo e ao mesmo tempo apreciá-lo com arte e conhecimento:

Segredo da Longevidade 48: Não viva cada dia como se fosse o último. Viva como se fosse o primeiro.

Referências

ÁLVAREZ, S. (2012). Os segredos da longevidade em Cuba. Disponível Aqui. Acesso em 03/06/2012.

COLLUCCI, C. (2012). Estudos procuram fórmula para chegar bem aos cem anos. Disponível Aqui. Acesso em 28/05/2012.

GLOBO REPORTER (2012). A capital da longevidade. Disponível Aqui. Acesso em 06/06/2012.

G1 – FANTÁSTICO (2007). Longevidade dos habitantes da Sardenha intriga cientistas. Disponível Aqui. Acesso em 06/06/2012.

KÜCHLER, A. (2008). Povoado no Equador tem dez vezes mais pessoas centenárias que média mundial. Disponível Aqui. Acesso em 06/06/2012.

VÍDEO (2008). Longevidade em Loma Linda – Califórnia (EUA). Disponível Aqui. Acesso em 06/06/2012.

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