“O Círculo” expõe um futuro sem ética

“O Círculo” expõe um futuro sem ética

O filme O Círculo no último debate da sessão Itaú Viver Mais no Frei Caneca, em São Paulo, foi a oportunidade para reflexão sobre tecnologia, redes sociais. O grupo de pessoas de diversas idades, especialmente de mais 55 anos que se encontra todo mês, debateu seu cotidiano e experiência com o celular-smartphone, com facebook, whats up plataformas e mídias que todos usam, naturalmente. Captaram a mensagem do filme com as questões centrais: privacidade, manipulação, poder, superexposição.

 

O Círculo mobilizou não só a plateia feminina mas a masculina, que aumenta a cada edição, enriquecendo o debate coordenado pela equipe do Portal do Envelhecimento. Foi observado a indiferença e/ou alienação da população que por ter nas mãos um smartphone faz posts de acidentes (de carro como exemplo) sem a preocupação primordial que é socorrer as vítimas.

Vários depoimentos, situações vividas, foram trazidas à tona. Por exemplo, um senhor que relatou o roubo de sua bicicleta e que ele considera que sem um celular não poderia ser atendido pela delegacia e fazer o registro, rapidamente.

A qualidade da discussão surpreendeu. Alguns presentes mencionaram que a tecnologia está presente em vários aspectos da vida e da política de cada dia. Um Senhor comentou os “arsenais” de guerra, especialmente com drones, aviões modernos usados hoje para combater, por exemplo, a guerra na Síria – Estado Islâmico.

O debate “exigiu” ampliar a percepção sobre o valor da tecnologia, mas também considerar dificuldades que a sociedade enfrenta com a demanda por superexposição nas mídias sociais.

O personagem que faz o sócio diretor da Empresa Círculo no filme, ávido por poder, corrupto, insensível, não deixou de ser comparado aos nossos políticos.

A participação foi ativa e as pessoas ficaram sensibilizadas com a protagonista e sua família e quão é importante a busca de sonhos sem muita ambição e poder a qualquer preço. Falou-se sobre respeito ao outro, ética com uso dos aparelhos e mídias cuja tecnologia, idealmente, deveria ser para o “bem”. Desligar celular em sala de cinema foi apontado como forma educada de convivência em sociedade. Todos concordam com o comentário de uma senhora que reforçou quão óbvio é a importância da educação.

No filme, observa-se que a sala do diretor não tem computador! Em uma empresa com foco em projetos de alta tecnologia, funcionários vigiados por câmeras, super computadores e smartphones conectados 24 horas, a sala do diretor “paradoxalmente” era plena de livros na estante. Uma sala tradicional, com uma máquina de escrever antiga.

Uma senhora que participou do debate ficou preocupada com a superexposição e invasão de privacidade. Parece que o tema privacidade mexeu porque há uma cena no filme que choca pela insensibilidade quando o personagem Mercer sofre verdadeira “caça”, o que culmina em uma situação trágica, mudando a percepção da protagonista, que virando a mesa denuncia os donos da Círculo.

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Por fim, questionou-se a responsabilidade de muitos pais deixarem os filhos se envolverem nas redes sociais, sem medida. O tema foi provocativo e acredito que deixamos muito que falar, dúvidas às quais há espaço para reflexão. Quem não pode assistir o debate se aproximou e manifestou que gostou do tema, lamentando não poder ficar para as reflexões coletivas.

O filme

O Círculo é uma empresa que tem como negócio a área de tecnologia ao conectar e-mails dos usuários às redes sociais. Exemplos como Google, Facebook – compartilhamentos, Apple. Foco no lançamento de produtos “plataforma “true you” e Seechange” – realidade virtual. Podemos dizer que o diretor trabalha os conceitos transparência, liberdade individual, ética e privacidade, manipulação nas mídias sociais. A empresa está localizada em um complexo de edifícios com arquitetura moderna, saguão sem paredes e os jovens são livres para conviver em atividades lúdicas, festas, espaço físico ao ar livre que mais parece um campus universitário do que uma Organização como conhecemos – Google. Ambiente que todo jovem sonha trabalhar no Vale do Silício.

O diretor da empresa Círculo se auto intitula dono da verdade com frases de efeito: “saber é bom, saber tudo é melhor ainda”, repetia o mantra “segredo são mentiras”. Tem performance de dono do mundo, um catequizador com desejos de ser um Deus.

O roteiro, de Dave Eggers e James Ponsoldt, apresenta uma empresa onde o ambiente de trabalho é a síntese da sociedade em redes, um espaço que deve estar conectado 24 horas/dia. Os funcionários são incentivados e estimulados a serem “ativos, “felizes”, “entusiasmados”, “engajados” mesmo que o excesso os canse fisicamente e emocionalmente. Estar fora do círculo é sinônimo de invisibilidade.

O filme gira em torno do contexto familiar da protagonista, Mae Holland, e a doença do seu pai (esclerose múltipla, dificuldade financeira, pois é alto o custo do remédio para tratar da doença). Mae, infeliz no trabalho, consegue um emprego e transita entre ficar deslumbrada pela motivação do mundo corporativo de uma grande empresa “cobiçada por muitos jovens” e o perigoso trabalho que a força “ser vigiada e cobaia para novos lançamentos”, True You e Seechange.

Seu amigo de bairro, Mercer, jovem sensível, artista não conectado, será vítima fatal deste excesso de exposição e invasão nos seus hábitos de vida simples e até mesmo alienado desta sociedade dita contemporânea, plugada 24 horas em redes sociais com seus smartphones.

Ty é apresentado pelo diretor como o “co-founder” da empresa e foi quem desenvolveu a primeira plataforma “true you”. Vende a empresa e vaga solitário observando, talvez infeliz pelo uso que os novos sócios deram à plataforma desenvolvida por ele. Mae (em uma festa da empresa) se aproxima de Ty e parece que ele intui ingenuidade, fragilidade, talvez comparando com o que ele fez quando se subjugou (valor monetário!) ao poder dos 2 sócios da Círculo. Mae Holland, através da amiga Annie e de Ty, visita os bastidores da empresa onde os sócios tramam suas ações.

O cenário futurista é de pouca esperança! A presença da câmera que vigia, vê tudo, é cruel, perversa, invasora de privacidade. A câmera passa a ter vida própria sem controle. O único momento de privacidade permitidos a Mae Holland, são os 3 minutos para ir ao banheiro.

Há um episódio emblemático na cena que os sócios da Círculo são desmascarados pela Mae e em um ato de puro desespero o diretor “corta a eletricidade” … mas os funcionários na plateia acendem as lanternas dos seus celulares, então se tem a sensação de que não há mais volta.

 *Fotos: Rodrigo Gueiros ([email protected])

Conceição De Souza

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