Mulheres incontinentes: por que e como prevenir?

Os quadros de incontinência urinária, em sua maioria, ocorrem devido a um enfraquecimento dos músculos do assoalho pélvico que é composto por um conjunto de 13 músculos e tecido conjuntivo que estão localizados na cavidade pélvica entre a região vaginal e anal, auxiliados por fáscias e ligamentos. É de extrema importância para a manutenção da qualidade de vida sexual, principalmente na mulher.

Helen Keller Frank Conceição Leal de Oliveira *

 

mulheres-incontinentes-por-que-e-como-prevenirO que vem a ser a incontinência urinária em uma mulher? E nas mulheres idosas? É uma doença de velho? Essas, entre outras, são perguntas muito comuns que escuto em minha prática clínica cotidiana. Na tentativa de ajudar outras tantas mulheres tento, neste breve artigo escrito para o Portal do Envelhecimento, explicar o que vem a ser, seu impacto e como prevenir.

Para começar, até 1998 a incontinência urinária inicialmente era apenas um sintoma. Foi a partir dessa data que ela passou a ser considerada uma doença nas Classificações Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde. Estamos falando de 17 anos para cá. Atualmente, a International Continence Society (ICS) define a incontinência urinária como perda involuntária de urina que ocasione desordens sociais no indivíduo, como isolamento social, quadros de depressão, sentimento de incapacidade, baixa autoestima, diminuição da qualidade e/ ou problemas higiênicos. Por isso é extremamente importante valorizar as queixas principais dos pacientes.

Os quadros de incontinência urinária, em sua maioria, ocorrem devido a um enfraquecimento dos músculos do assoalho pélvico que é composto por um conjunto de 13 músculos e tecido conjuntivo que estão localizados na cavidade pélvica entre a região vaginal e anal, auxiliados por fáscias e ligamentos (que funcionam como elásticos), sustentam alguns órgãos abdominais e pélvicos como a bexiga, útero, reto no posicionamento correto, além de manter a continência urinária e fecal. É de extrema importância para a manutenção da qualidade de vida sexual, principalmente na mulher.

Diversos estudos demonstram um aumento na prevalência da incontinência urinária em mulheres idosas, principalmente após o período menopausal. Explicado por causa de alterações hormonais importantes que ocorrem nesse período, entre elas a diminuição do nível de estrogênio que influencia diretamente na capacidade de contratabilidade da musculatura perineal. Porém, é importante ressaltar que a incontinência urinária na mulher idosa é uma situação muito prevalente mas nem por isso pode ser considerada como uma condição normal e inerente ao processo do envelhecimento.

De acordo com as últimas pesquisas, estima-se que 50 milhões de pessoas no mundo sofram com quadros de incontinência urinária, sendo mais comum em mulheres e podendo acometer até 50% delas em alguma fase de suas vidas. Embora muitas mulheres não relatem a presença de incontinência no Brasil, é estimado que 11 a 23% da população feminina seja incontinente. Em idosas essa prevalência pode variar entre 8 a 35% e em idosos institucionalizados a prevalência pode chegar a 57,3%.

A sociedade Brasileira de Urologia (SBU) estima que 1 em cada 25 brasileiros apresentarão um quadro de incontinência urinária ao longo da sua vida. Atualmente, no país, são poucos os estudos que relatam sobre os fatores de risco e a prevalência da incontinência urinária, dificultando, assim, saber qual é de fato a dimensão dessa problemática em nossa população.

Por que é mais comum nas mulheres?

A prevalência nas mulheres é duas vezes maior que nos homens, podendo afetar 50% delas em alguma fase da sua vida. E é mais comum em mulheres devido algumas características predisponentes nesse grupo. Como já assinalado, as alterações hormonais que afetam a musculatura do assoalho pélvico e características da bexiga é um dos fatores que pode levar uma pessoa a ter incontinência urinária. Outro fator pode ser traumas na musculatura do assoalho pélvico devido a partos normais e cirurgias ginecológicas, além de fatores hereditários, raça, menopausa, obesidade, doenças crônicas, peso do recém nascido.

Outros fatores também podem levar a pessoa a ter incontinência urinária, como uso de alguns medicamentos, constipação, tabagismo, consumo de alguns alimentos irritantes vesicais como a cafeína, adoçantes, refrigerante, pimenta, chocolate e derivados a base de chocolate, álcool e alimentos ácidos. Além de exercícios intensos na região abdominal e/ou levantamento de peso constante.

mulheres-incontinentes-por-que-e-como-prevenirIndependente dos fatores, as perdas involuntárias de urina provocam na mulher diversos traumas que atingem principalmente os aspectos psicológicos, além de gerar ansiedade e sentimentos como vergonha, medo, constrangimento, solidão, depressão, isolamento social. Na esfera familiar provoca restrições no convívio do casal e sexual, afetando de forma drástica a qualidade de vida e sexual em todas as suas esferas e aspectos.

As mulheres incontinentes que convivem diariamente com os quadros de perdas urinárias involuntárias tentam adaptar-se a essa realidade. Elas utilizam frequentemente perfumes com odor forte e roupas escuras. Também acabam tomando menos água e suspendendo por conta própria medicamentos que estimulem a eliminação urinária. Usam ainda absorventes, protetores higiênicos e fraldas para controle da perda urinária.

Há ainda a procura imediata pelo banheiro em locais públicos, além de negarem o convívio social como ir em festas de família, igreja, entre outros. Também evitam relações sexuais por medo de perder urina durante o ato sexual e o odor, gerando um desgaste importante no relacionamento com o cônjuge, condicionando essa mulher a mudar de forma radical sua vida devido as perdas urinárias.

Apesar das queixas de perdas urinárias recorrentes, normalmente a mulher leva um longo período para procurar assistência médica adequada. Isso por causa, muitas vezes, de fatores culturais, familiares ou ainda pelo constrangimento, aliado ao desconhecimento de possibilidade de tratamento para sua incontinência urinária.

Tipos de incontinência feminina

Entre os tipos de incontinência urinária mais comuns encontramos:

a) Incontinência urinária de esforço: é a queixa de perda involuntária de urina ao fazer esforços ou durante a prática de exercício físico, quando espirra ou se tosse.

b) Incontinência urinária de urgência: é a queixa de perda involuntária de urina associada a uma necessidade aquela vontade repentina/ urgência de ir ao banheiro.

c) Incontinência mista (urgência e esforço): é a queixa de perda involuntária de urina associada à urgência como também ao esforço.

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d) Incontinência urinária temporária: é a queixa como uma perda urinária involuntária, ocasionada por um período, é comum aparecer durante a gravidez devido às alterações dessa fase.

Portanto, assim que se observar alguma alteração em relação ao ato miccional e quadros recorrentes de perdas urinárias involuntária, procurar um serviço médico adequado (ginecologista e/ou uroginecologista), para que através de avaliações e exames clínicos mais precisos, seja possível o diagnóstico do quadro. Após o diagnóstico, a pessoa deve ser encaminhada para o tratamento mais adequado: procedimento cirúrgico, medicamentos ou encaminhamento para tratamento fisioterapêutico uroginecológico.

Tratamentos mais comuns

O tratamento da incontinência urinária é dividido em cirúrgico, medicamentoso e conservador. Dentro do tratamento conservador está fisioterapia uroginecológica, que apresenta bons resultados no tratamento da incontinência urinária. O tipo de tratamento que será realizado vai depender de alguns aspectos como o tipo da incontinência e o quadro clínico que a pessoa apresenta. Além da adesão da pessoa, é de extrema importância para o sucesso do tratamento realizado as mudanças nos hábitos de vida diária.

Entre os tratamentos, está a fisioterapia uroginecológica, importante para conscientização e aprendizado da contração da musculatura do assoalho pélvico em mulheres incontinentes. Vale ressaltar que para o sucesso do tratamento fisioterapêutico é necessário que seja feita as devidas orientações de como realizar as contrações corretas do assoalho pélvico e ajustar a intensidade do programa a cada sessão. Considero que o segredo do bom prognóstico do tratamento fisioterapêutico “é sempre realizar a motivação da paciente de acordo com as suas características individuais e necessidades, além da adesão ao tratamento”.

mulheres-incontinentes-por-que-e-como-prevenirO leitor deve estar se perguntando o que, afinal, a fisioterapia faz exatamente. Bem, o tratamento conservador fisioterapêutico vem apresentando bons resultados para o tratamento da incontinência urinária, além de ser um recurso de baixo custo e sem efeitos colaterais. A fisioterapia tem como seus principais objetivos, a reeducação dos músculos do assoalho pélvico e, consequentemente, seu fortalecimento. Além de trabalhar a percepção dessa região e desses músculos, dispondo de diversos recursos, tais como:

a) Eletroestimulação é um aparelho que utiliza correntes elétricas bifásicas, cujo objetivo é aumentar a consciência dessa região, promovendo o aumento da percepção dos músculos do assoalho pélvico;

b) Cinesioterapia Perineal, consiste no treinamento do assoalho pélvico como a contração e relaxamento voluntário, seletivo e repetitivo de músculos específicos do assoalho pélvico, através de uma série de exercícios, que recebe o nome de exercício de Kegel, criado por um ginecologista norte-americano, Dr. Arnold Kegel, em 1948. Os exercícios são realizados em diversas posições: deitado, em pé, sentado e pode ser realizado com auxílio de bolas, almofadas, entre outros;

c) Cones Vaginais, são dispositivos que aumentam a resistência e a percepção da região dessa musculatura e, normalmente, são formados por um conjunto de cinco cones em diferentes tamanhos e pesos, introduzidos na região vaginal e, em seguida, realizado uma série de exercícios;

d) Biofeedback de pressão e/ou eletromiográfico, é um aparelho que utiliza recursos por diferença de pressão e/ou utilização de eletroterapia, cujo objetivo é gerar uma conscientização desses músculos através do uso de recursos visuais e auditivos, proporcionando um aprendizado e uma melhor qualidade de contratabilidade dessa musculatura.

É importante ressaltar que todas essas técnicas podem estar associadas entre elas. O fisioterapeuta, ao longo do tratamento e da sua percepção em relação à evolução da paciente, pode associar ou trocar os recursos utilizados no tratamento. Por isso é imprescindível o diálogo em cada sessão entre o fisioterapeuta e a paciente para observar suas perspectivas em relação ao tratamento realizado. Entretanto, a efetividade do prognóstico no tratamento conservador da incontinência urinária depende não só da equipe multidisciplinar envolvida, mas também da colaboração da paciente. Alguns estudos realizados demonstram que 50% das cirurgias de incontinência poderiam ter sido evitadas se fossem realizados exercícios do assoalho pélvico, principalmente nos casos de incontinência urinária de esforço, além da eficácia dos tratamentos oferecidos pela fisioterapia em poucas sessões.

Como prevenir a perda de urina?

Em relação à prevenção da incontinência urinária, existem poucos estudos científicos que estabeleçam que algo funcione realmente. Na minha prática clínica observo que mudanças nos hábitos de vida são relevantes, como:

a) Manutenção de peso;

b) Prática diária de exercícios físicos;

c) Ter um ritmo miccional diário adequado, ou seja, evitar segurar a urina;

d) Realizar o ato miccional sempre quando possível sentada para esvaziar totalmente a bexiga;

e) Evitar levantamento de peso constante e exercícios físicos de muito impacto sobre a região pélvica;

f) Evitar o consumo em excesso de determinados alimentos como: cafeinados, adoçantes, frutas ácidas, refrigerantes, pimenta, chocolate e derivados de chocolate e álcool, que são considerados irritantes vesicais e poderiam agravar os episódios de perda urinária, principalmente na incontinência urinária mista e de urgência;

g) Antes de engravidar, é indicado realizar treinamento perineal com fisioterapeuta, com a finalidade de prevenir possíveis lesões durante o parto e ajudar na recuperação no pós parto; e

h) Sempre treinar a musculatura do assoalho pélvico, sendo imprescindível a procura de um profissional especializado como de um fisioterapeuta.

* Helen Keller Frank Conceição Leal de Oliveira – Fisioterapeuta e mestranda em Gerontologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Participa como fisioterapeuta colaboradora e pesquisadora do Hospital Maternidade Vila Nova Cachoeirinha (HMEC), localizado na zona norte de São Paulo, onde há um grupo de pesquisa com enfoque em temáticas relacionadas à saúde da mulher. Email: [email protected]

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