A mudança na cultura na prestação de serviços para o envelhecimento

Fomos convidadas para o coquetel de premiação do VII Concurso Brasileiro de Artes premia obras de portadores da doença de Alzheimer, promovido pela Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), com o patrocínio da BM&¨F – Bolsa de Mercadorias & Futuro, que promove todos os anos, no Espaço Cultural da BM&F, o Concurso Brasileiro de Artes “O Portador e seu Cuidador”. O evento faz parte da divulgação e conscientização do Dia Mundial da doença de Alzheimer e conta com a coordenação da curadora Sonia Fortuna e das voluntárias Maria Lucia de Mello Santos, Marcia Horie e Vera Caovilla.

Maria Guiomar de Simone Martines *

 

Em 2007 contou com a participação de trabalhos de vários Estados brasileiros somando um total de 56 obras. Foi visitada por 279 pessoas e, por voto direto do público, foram premiados diversos trabalhos. A oitava edição do Concurso Brasileiro de Artes “O Portador e seu Cuidador” acontecerá no segundo semestre de 2008 incentivando o portador na execução de sua obra.

Como qualquer grande família a correria se instalou. Quem vai? Quem leva? Quem acompanha? Precisávamos também da autorização das famílias etc… Rotinas, ou melhor, “o sair da rotina” de uma moradia de idosos. Enfim, lá fomos nós para São Paulo, com idosos, cuidadores, motorista e todos os anjos nos abençoando.

Contamos com o apoio do corpo de bombeiros para a locomoção dos idosos ao chegarmos lá, pois no centro da cidade São Paulo não entra carro.

A festa começou!!!

Nossos trabalhos expostos com capricho e carinho pelos organizadores do evento da ABRAZ. O colorido da vida brotava do rosto de cada um de nós, da alegria de vê-los felizes e vivendo emoções reais. A certeza de que neste ciclo de vida, cujas limitações estão presentes, estas não seriam empecilhos para viver o sonho e dele desfrutar, mesmo que por alguns instantes. Exercemos o nosso direito, a cidadania, escolhendo o melhor trabalho e votando. Agradecemos aqui a família do Miguel que nos ajudou nessa empreitada.

Já eram altas horas quando resolvemos ir embora. Organizar a Van, um trabalho de sintonia fina. Quem não briga com quem, quem quer ir na frente, quem enjoa … Coisas que só quem vive sabe que por melhor que seja nosso planejamento, só o jogo de cintura e o bom senso valem nessa hora.

Na despedida fiquei conversando com um segurança da Bolsa de Valores e ele me contou que a primeira vez que viu os trabalhos da ABRAZ expostos lá, ficou surpreso, e com um certo constrangimento. Então falou:

– Nossa, que coisas estranhas!

Relatou que está acostumado a ver belas obras de arte nesse espaço, e ficou sem entender muito, até que conheceu as pessoas que produziam essa arte e aí com os olhos marejados continuou…

– Essa é a arte mais bonita que eu já observei na vida.

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Quando escutei esse depoimento senti que precisava perpetuá-lo. Escrevê-lo para que outras pessoas entendessem o que é trabalhar com as possibilidades de uma Doença de Alzheimer (DA). Esta arte se julga com o coração.

Como no o ano passado o Residencial Ciclo Vital não recebeu nenhum prêmio dos trabalhos que enviou para o concurso (todos os nossos moradores são inscritos com pelo menos um trabalho), este ano não esperamos muito. Porém, o agito dos preparativos, o coquetel, o trabalho e canseira, a euforia da volta (quando eles voltam desses passeios alguns não dormem), já é alguma recompensa. Mas, ganhar é sempre muito bom.

Hoje soubemos que recebemos três primeiros lugares no concurso e o prêmio não é só do idoso. O prêmio é de uma equipe que acredita, sonha, briga, às vezes até tem vontade de desistir do trabalho, mas que sabe que muito além do profissional, o que fazemos é uma missão de vida.

Enfrentamos problemas corriqueiros como alguns familiares que reclamam que a blusa de seu familiar está descosturada, quando passamos a noite acordados à beira de outro morador que está fazendo a passagem para um outro ciclo da vida, quando fazemos um mutirão de trabalho para todos participarem (da funcionária da limpeza às proprietárias), de treinamentos para termos uma linguagem única e um atendimento digno e com responsabilidade, e embasados nos procedimentos éticos e científicos mais atualizados no Brasil.

Acho que isso é mais que um agradecimento. É um desabafo e uma mostra para vocês, leitores, de como funciona o outro lado dos bastidores de uma moradia para idoso.

Para terminar, hoje, quando liguei para a família de D. Maria Pagan (nossa hóspede já falecida) ganhadora do prêmio de literatura, seu genro me disse:

– O ano passado quando fui conhecer o Residencial Ciclo Vital, você estava com a mão na massa preparando os trabalhos para levar para São Paulo… Isso faz parte da sua vida.

E eu respondi:

– Não, isso faz parte de colocar vida na vida deles. Essa é a proposta da nossa Instituição de longa permanência para idosos (ILPI): VIVER.

Os asilos existem há mais de quatrocentos anos e eram responsáveis por esconder dos espaços públicos os doentes, loucos, velhos, etc. Hoje, a maioria das ILPIs, como a nossa, estão no Brasil com uma proposta de fazer uma reforma de pensamento e cultura de seu povo. Estão, através da práxis (teoria e prática) mostrando para nós, jovens e adultos brasileiros, a caminho de sermos em 2025 – segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) – o sexto país mais envelhecido do mundo, as experiências de bem viver que serão sistematizadas e acolhidas. E, quem sabe, quando fizermos uso dessas instituições teremos critérios e modelos a serem seguidos para esse novo Ciclo de vida.

Premiados

1º lugar categoria Literatura.
MEU NATAL

Eu passava o Natal no altar, porque ia na missa de noite.
Depois ia para casa onde tinha muitas pessoas. Pessoas da família.
Todos iam na minha casa.
Acontecia muita coisa boa.
Viam Papai Noel. Meu marido e minha tia, conforme o dia, eles que se vestiam de Papai Noel.
Tinha uma grande festa.
Eles moravam perto da minha casa. Eram vizinhos.
Eles levavam muitas cestas, uma com Jesus Menino abençoado, outra com Nossa Senhora e todas com enfeite de Natal.
Maria Sicchiera Pagan, 84 anos. Obra: História de Natal

* O Residencial Ciclo Vital estrá localizado na Al. dos Manacás, 541 Planalto Verde – São Roque – SP – Tel: (11) 4712-6004/4719/1090. E-mail: [email protected]. Site: Acesse Aqui 

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