Estresse afeta saúde bucal

De caráter infecto-inflamatório, as doenças no periodonto (tecido em torno dos dentes) acometem a gengiva e os tecidos de suporte dentário e estão muito associadas à má higiene bucal. Uma pesquisa realizada na Faculdade de Odontologia de Piracicaba, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) relacionou as doenças periodontais também com o estresse.

Marina Mezzacappa

O estudo deu origem à tese de doutorado de Daiane Cristina Peruzzo e foi apresentado no final de janeiro na Unicamp.

O trabalho aponta que o estresse, em associação com a má higiene bucal, aumenta as chances do desenvolvimento de doenças periodontais. Apesar de muitos trabalhos já terem demonstrado a relação do estresse com as doenças do periodonto, a maior parte das análises focalizavam o efeito do estresse sistemicamente. Segundo Peruzzo, sua pesquisa é a primeira a investigar localmente o efeito do estresse nos tecidos periodontais.

Com estresse e depressão afetando a cada dia uma parcela maior da população, diversos pesquisadores têm se dedicado ao estudo dos efeitos desses e de outros fatores psicossociais, como a angústia, no surgimento das doenças periodontais. “Condições mentais e emocionais afetam a resposta imune dos indivíduos, predispondo-os ao surgimento de diversas patologias, entre elas, a doença periodontal”, explica Peruzzo.

Dentre as doenças mais comuns no periodonto estão a gengivite, inflamações localizadas apenas na gengiva, e a periodontite, que compromete o tecido ósseo de suporte do dente e, com sua evolução, leva à mobilidade dentária, culminando na perda do dente. “Várias outras doenças têm sido associadas à infecção periodontal, como doenças cardíacas, partos prematuros, nascimento de bebês de baixo peso e algumas doenças pulmonares”, completa a pesquisadora.

A falta de cuidados com a higiene dental é fator desencadeador da doença periodontal, mas outros fatores estão associados à progressão da doença, como susceptibilidade dos indivíduos, problemas imunológicos, diabetes, além de fatores comportamentais, como consumo de cigarros.

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Modelo animal
A pesquisa conduzida por Peruzzo foi dividida em três fases. A primeira, uma revisão sistemática da literatura internacional, já teve seus resultados publicados na edição de agosto de 2007 no Journal of Periodontology, da Associação Norte-Americana de Periodontologia. O artigo revelou que os estudos em humanos apontam, em sua maioria, uma forte correlação entre o estresse, fatores psicológicos, e a doença periodontal.

A segunda e a terceira fases da pesquisa foram compostas por experimentos utilizando camundongos. A pesquisadora optou pelo trabalho experimental em animais pois, neste tipo de modelo, pode-se isolar a variável estresse, o que não se consegue em humanos. “Além disso, podemos padronizar o estresse para toda a amostra, o que seria inviável em humanos, impossibilitando que o real efeito do estresse fosse avaliado”, detalha.

Com a utilização do modelo animal, foi observado que a presença do estresse crônico pode modular a doença periodontal por meio de um aumento local nas proporções de fatores pró-inflamatórios e pró-reabsorção óssea, favorecendo, assim, a destruição óssea periodontal.

“O estresse, a depressão e a ansiedade podem levar à quebra do equilíbrio tecidual do periodonto, facilitando o gatilho gerador das doenças periodontais frente à placa bacteriana”, afirma Eduardo Saba-Chujfi, periodontista do Centro de Pesquisas Odontológicas São Leopoldo Mandic. “Esta relação se deve a liberação de hormônios como hidrocortisona e cortisol, assim como a grande produção de adrenalina”, prossegue.

Segundo Peruzzo, essas substâncias regulam uma série de funções corporais, incluindo efeitos na modulação do sistema imune, podendo exercer um efeito pró ou antiinflamatório. O estresse desencadeia um efeito pró-inflamatório, “predispondo a maior progressão e severidade de doenças imune-inflamatórias, incluindo a doença periodontal”. Ainda em nível biológico, o estresse age através da redução do fluxo salivar e da alteração da circulação gengival.

A pesquisadora ainda destaca que agrava este quadro, o fato de o estresse também ser responsável por um impacto comportamental negativo sobre a saúde bucal. “Indivíduos com altos níveis de estresse tendem a piorar seus hábitos, negligenciando a higiene oral, aumentando o consumo de cigarros e a ingestão de bebidas alcoólicas, descontrolando cuidados com o diabetes e mudando a dieta”, enumera a pesquisadora.

Saba-Chujfi lembra que as doenças periodontais são muito comuns. “Em nosso país, em especial, a prevalência é altíssima”. Por isso, além de uma higiene adequada, com escovação e uso do fio dental depois de cada refeição, Peruzzo enfatiza a necessidade de visitas regulares ao dentista. “Alguns problemas, como próteses e restaurações mal adaptadas, bem como más posições dentárias, podem dificultar a higienização, facilitando o acúmulo de placa e o desenvolvimento de doenças gengivais que, muitas vezes, não são notadas pelo paciente e devem ser diagnosticadas pelo dentista”, explica.

A pesquisadora pretende agora dar continuidade às pesquisas a fim de avaliar se pacientes diagnosticados com estresse crônico respondem de forma diferente ao tratamento da doença periodontal.
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Fonte: Com Ciência -SBPC/Labjor, 11/2/2008. Disponível Aqui

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