É melhor pagar do que usar. A vida é valiosa demais!

É melhor pagar do que usar. A vida é valiosa demais!

Três palavras dão hoje significado à velhice: Planejamento, Autonomia e Solidão. Eu e meu marido já temos esse planejamento inicialmente básico que é um plano de previdência particular, um lugar para morrer, estranho, mas necessário, algumas escolhas de morte.

Por Fabiana Benevides Paulino (*)

 

Vivemos num tempo onde o velho e/ ou o idoso é visto com olhos cheios de desrespeito, negativismo, preconceitos e maus tratos.

O mundo está envelhecendo, e com ele, uma constante luta, pois de um lado estão os que se orgulham por tudo que se construiu, se formou e continua a se conquistar com esses anos que a vida está lhe proporcionando, e, por outro lado, as pessoas lutando contra si, contra o tempo, contra a sociedade, contra o preconceito, contra o mundo e contra o maior vilão de suas vidas que é a não aceitação da idade que chegou e que, por valorizar somente o externo, o corpo, a moda, a sua “eterna juventude”, deixaram de viver e brindar a vida. Ficando presas numa filosofia fraca e sem direção.

O curso “Fragilidades na Velhice: Gerontologia Social e Atendimento”, ofertado pela PUC-SP, trouxe-me diversos olhares, aprendizados, pensamentos, reflexões e descobertas em relação ao mundo do idoso até ontem desconhecido por mim. Percebi a importância, a valorização e admiração grandiosa em ter ao lado pessoas tão queridas como pais, amigos, conhecidos, avós de amigos e até desconhecidos (tenho a fama de conversar com todos em mercados, filas, elevadores) pois, são velhos porém são seres humanos presentes, vivos, queridos, dependentes ou não, trabalhando ou apenas voluntários, cultos ou analfabetos, atletas ou sedentários, mas nisso tudo, o mais importante foi reconhecer as suas individualidades, as suas capacidades e limitações com respeito e muito carinho. Seres únicos em suas qualidades, em suas necessidades, em seus conhecimentos, habilidades, de acordo com a sua vivência, com o seu local de nascimento, como a sua criação, cultura, e até mesmo o seu histórico nutricional.

Não podemos julgá-los! Temos o dever de respeitá-los como seres humanos e cidadãos. Em relação ao sentimento “amor” em ter ou não ter por um velho parente ou não, já é uma questão muito intimista e não podemos exigir de ambas as partes, pois cada um carrega a sua própria bagagem e essa bagagem sempre é muito bem guardada com muitos outros sentimentos.

Embora todos os estudos apontem para um crescimento significativo do número de idosos pelo mundo daqui a algumas décadas, não estamos tão avançados e, nem elaborando planos para esse futuro próximo e cheio de mudanças. Nem em âmbito social e nem mesmo familiar. Seja por falta de informações ou interesses, seja por achar que não atingirá a idade dessa “temida velhice” ou pior, por questões financeiras.

 

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Em particular, coloco em questão o quanto é difícil nos planejar para a velhice, pois com a situação atual, na qual mal conseguimos sobreviver com o presente, a palavra “poupar” desapareceu do âmbito familiar. Ressalto três palavras que dão hoje significado à velhice: Planejamento, Autonomia e Solidão. Eu e meu marido já temos esse planejamento inicialmente básico que é um plano de previdência particular, um lugar para morrer, estranho, mas necessário, algumas escolhas de morte, mas em pensamento tudo é tão difícil pensar, pois fazemos o planejamento, temos autonomia até então e temos medo da solidão, tudo se contradiz, ou seja, preparamos o mais racional, o emocional ainda está em desenvolvimento.

Coloco aqui outra situação particular, antes mesmo do curso, reformamos a casa dos meus pais, todos colaboraram, mas a arquiteta da obra sem nenhum diploma em mãos foi a minha mãe com mais de 73 anos, lúcida e independente, já se planejando para uma velhice segura e duradoura, como ela sempre diz, exigiu portas largas, para o uso de uma cadeira de rodas, um banheiro com barras de apoio e um boxe bem largo para a cadeira de banho, pisos antiderrapantes, pisos sem degraus, sem tapetes, sem muitos enfeites, tudo de acordo com futuras necessidades ou dependências. Achamos aquilo perfeito, pois partiu dela, sem receio, com amor, do jeito e do gosto dela.

Outro exemplo, foi a compra de um jazigo com seis gavetas com um convênio funerário onde cobre todos os trâmites de um enterro. Quando compramos, era um assunto que ninguém gostava de falar, chegava o dia de pagar e todos contribuíam sem questionar. Até que amadurecemos a ideia do quão é importante e, é para poucos, até que o assunto passou a ser mais piadista, pois brincava-se quem inauguraria a nova aquisição e, infelizmente, foi um tio nosso que veio a falecer e foi tudo muito tranquilo. É melhor pagar do que usar. A vida é valiosa demais!

A mídia transmite a imagem – seja ela na TV, revistas ou redes sociais – de um idoso branco, cheio de dentes brancos, sorrindo, roupas alinhadas de grifes, viajando, dançando, rodeado de amigos, familiares, vivendo a velhice como se ela fosse assim para todos.

Sabemos que para muitos não é bem assim, as doenças, a falta de conforto, de amigos, de dinheiro, tornam, muitas vezes, algo simples em pesadelos que transpassam o corpo físico doendo na alma, no abandono com esta sobrevida.

Podemos dizer que são escolhas? Que são resgates de outras vidas? Falta de oportunidades? Que a vida foi ingrata ou injusta?

Não sei! Estes pensamentos não costumo deixar me habitar, pois quando estou diante de um velho ou de um ser fragilizado tenho uma única certeza de que a necessidade é a necessidade e ela está no presente, no hoje, no agora e, nada mudará pelo que a pessoa foi no passado ou será no futuro. Só temos a oportunidade de ser diferente ao idoso no presente. Amenizar um sofrimento é “ser humano”, é levar a sua paz, a sua bondade, o melhor de si pelo bem do outro.

Conclusão

Sabemos que o envelhecimento é um processo natural e, para ser natural e tranquilo, precisamos de alguns preparos para que, se chegarmos na velhice, que seja uma velhice menos dolorosa para nós e para quem cuidar de nós.

 

(*) Fabiana Benevides Paulino é Fisioterapeuta de formação. Estas reflexões surgiram a partir do curso de curta duração “Fragilidades na Velhice: Gerontologia Social e Atendimento”, ofertado pela PUC-SP no primeiro semestre de 2017. E-mail: [email protected]

 

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