Centro-dia: necessidades e possibilidades

Os cuidados de longa duração intermediários assumem grande relevância diante do crescente envelhecimento populacional e do aumento da dependência funcional. A política de cuidados de longa duração ainda é incipiente. Os cuidados intermediários, como é o caso do Centro-dia, ainda são raros, apesar da sua previsão legal.

Texto: Vera Brandão *. Fotos: Rita Duarte Amaral 

 

centro-dia-necessidades-e-possibilidadesAs necessidades de cuidados geram diferentes arranjos: idoso que mora só, mas conta com apoios externos de familiares, cuidadores profissionais e/ ou programas de acompanhamento institucionais; o que vive com a família e por ela é cuidado integralmente; e o que vive com a família cujos membros trabalham, e não tem como contratar cuidadores externos, com ressalvas a esse mercado crescente e dispendioso, mas não necessariamente de qualidade.

Ante esse panorama os Centros-dia surgem como possibilidade de manter o idoso próximo a família desfrutando ao longo do dia, ou em período específico, de cuidados e trocas sociais que enriquecem as duas partes, e apontados como a alternativa mais benéfica para todos os envolvidos, e menos dispendiosos para as famílias de indivíduos independentes e/ou semi dependentes.

Não existe uma solução simples e pronta para resolver as questões complexas que se colocam ante o novo padrão demográfico, ou seja, crescimento da população idosa e daqueles com longevidade avançada em diferentes níveis de fragilidade e dependência, no qual as mudanças decorrentes da recomposição familiar impactam diretamente o acompanhamento e cuidado necessário nessa faixa etária. O cuidador familiar totalmente disponível é hoje escasso, e quando existe sofre também grande desgaste físico e emocional, tornando-se, muitas vezes, foco de cuidados.

Os estudos indicam como ideal que as responsabilidades sobre os cuidados de longa duração devem ser compartilhadas entre família, Estado e sociedade civil, incluindo o trabalho realizado pelas organizações não governamentais (ONGs), igrejas, e outras ações voluntárias, como modelos complementares na ação do cuidar. Vale lembrar que a iniciativa privada tem considerado este um novo modelo de negócio, também importante, dentre as muitas soluções frente ao crescimento do número de idosos no país. Fundamental, na formação dessa rede de responsabilidades e solidariedades, é o apoio de teóricos conhecedores do campo gerontológico que forneçam subsídios para informação social ampla e formação continuada de idosos, familiares e profissionais.

O que se espera, e pelo que se luta, são políticas públicas ampliadas e normatizadas que ofereçam apoio aos idosos e familiares buscando, sempre que possível, manter o idoso no entorno familiar.

centro-dia-necessidades-e-possibilidadesEssas questões foram tema de debate do VI Workshop, intitulado “Centro-dia: necessidades e possibilidades”, realizado pelo Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento – OLHE, em 17/03/2016, no auditório da Associação dos Bancários Aposentados de São Paulo – ABAESP – com a participação de Iadya Gama Mala – Procuradora de Justiça no Ministério Público do Rio Grande do Norte; Rachel Vainzoff Katz – gerente do Centro-dia da UNIBES em parceria com a prefeitura de SP; Maria Rita Moutte – proprietária do centro Villa dei Fiore, com mediação de Sergio Paschoal – Coordenador da área técnica de Saúde do Idoso, da Secretaria Municipal de Saúde/PMSP.

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Debate

A procuradora de justiça Iadya Gama Mala, afirma que existem leis não normatizadas, mesmo as previstas na Política Nacional do idoso, o que impede os avanços na área, pois o que de concreto se tem é um guia técnico, mas não baseado em legislação específica. Defende, assim como Sergio Paschoal, um sistema sócio sanitário e não apenas sócio assistencial, visando uma cobertura ampliada das necessidades que se fazem presentes, indicando como exemplo comparativo o modelo desses centros-dia na Espanha, incluindo os dirigidos especificamente as pessoas com Alzheimer.

Exemplificando o modelo do equipamento que surgiu na parceria UNIBES-PMSP, Rachel Vainzoff Katz, gerente da unidade, destaca a conquista que foi sua implantação, que contou com forte participação dos idosos da área central da cidade, como modelo de trabalho em rede de território. Com instalações apropriadas e as várias atividades propostas ao público, destaca o crescente entrosamento do grupo, em espaço de inclusão e escuta, no qual o respeito à cultura de cada um é um dos pontos essenciais, frente às diversas formas de viver, envelhecer e longeviver. Afirma ainda que na parceria estabelecida o valor financeiro repassado pela prefeitura é ainda muito inferior aos gastos, e que dos 15 centros que constam do plano de metas apenas 3 foram implantados e 3 estão em licitação, considerando que esta administração está em final de mandato.

centro-dia-necessidades-e-possibilidadesO centro-dia como modelo de negócio, em visão empresarial, foi apresentada por Maria Rita Moutte, proprietária do centro-dia Villa dei Fiori, destacando os passos e cuidados que antecederam sua criação e os desafios cotidianos de sua gestão. Segundo ela o propósito é ver os idosos felizes.

Sergio Paschoal, no papel de mediador, também defendeu a ideia do sistema sócio sanitário como evolução fundamental na construção de bases para que os serviços se transformem em políticas públicas. Sua atuação possibilitou um debate esclarecedor no qual foram apresentadas também as questões cotidianas, muitas respondidas por participantes responsáveis por diferentes centros-dia presentes.

O debate levou ao convite, feito por Marília Berzins, presidente do OLHE, para que as pessoas se organizem a fim de discutirem a implantação de um Fórum dos Centros-dia, no qual se pudesse refletir sobre os assuntos relativos, e somar forças para alcançar os patamares desejados e expressos no workshop pela plateia que, com certeza, são os de todos.

Deixamos como reflexão a frase dita, ao final, por Iadya Gama Mala: Cuidado é direito fundamental.

* Vera Brandão – Pedagoga (USP); Mestre e Doutora em Ciências Sociais (PUCSP); Pos.Doc em Gerontologia pela PUC-SP. Responsável pela editoria da Revista Portal de Divulgação desde 2004. Associada fundadora do Olhe (Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento). Coordenadora da Coluna Memórias do Portal do Envelhecimento, escreve sobre educação continuada; memória social; saúde e espiritualidade; intergeracionalidade. Email: [email protected].

Rita Duarte Amaral – Pedagoga, especialista em Gerontologia (HMSP), pesquisadora do GEM – Grupo de Estudos da Memória do Núcleo de Estudos do Envelhecimento (Nepe/ PUC-SP). Voluntária na Instituição de Longa Permanência “Lar Madre Regina” em Guarulhos (SP) desde 2002. Atendimento em Instituições de Longa Permanecia para Idosos desenvolvendo atividades de TEC (Terapia de Estimulação Cognitiva), Dança Sênior, passeios culturais em São Paulo. Associada fundadora do Olhe (Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento). Coordenadora e executora dos projetos da Oficina Memória Viva. Acesse o site Aqui .Colaboradora do Portal do Envelhecimento. Email: [email protected]

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