Assédio sexual, José Mayer admite: errei e…

Assédio sexual, José Mayer admite: errei e…

O mundo mudou, disse José Mayer, mas só percebeu quando se viu encurralado. Mesmo assim adotou um discurso escorregadio. Não quis ofender, agredir ou desrespeitar, mas tem consciência que fez as três coisas e muito mais. Avançou o sinal e foi parado no grito. Melhor para ele, pois podia ter ido longe demais e acabar preso. Quem passa a mão hoje, amanhã pode forçar uma situação e fazer uma besteira imensa.

 

Botou a culpa na cultura machista. Precisou ser confrontado, exposto, delatado e afastado de sua atividade para entender a gravidade dos seus atos. Demorou.

José Mayer, 67 anos, mineiro determinado, mudou-se sozinho para o Rio de Janeiro com o objetivo de atuar como ator. Estreou em 1980, aos 31 anos, para uma carreira de sucesso marcada por uma característica especial: seus personagens, com rara exceção, sempre se deu bem com as mulheres. Por isso ganhou o apelido de “Zé ‘Pegador’ Mayer”. Será que o artista esqueceu de se despir dos personagens?

Não. Não tem a ver com personagens. Tem a ver com uma cultura machista que impregna e permanece, faz crer o ator, mas apenas em quem a cultiva, deseja e quer, acrescento.

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Quem nunca ouviu falar no “teste do sofá”? Não é piada. Basta rir para dar seu aval à cultura do assédio. Por que será que muitas artistas eram vistas como prostitutas pelo homem comum? Porque os homens que dominavam os meios de comunicação vendiam essa imagem.

O grito de “bicha” da torcida brasileira a cada tiro de meta cobrado pelo goleiro adversário é para ser punido e contestado. Nos estúdios de cinema e TV, nos estádios, no transporte público, nas ruas, em nenhum lugar a cultura machista deve ser tolerada. É preciso dar um basta.

José Mayer, de um jeito torto, acaba de dar sua contribuição ao permitir, com seu comportamento reprovável, o surgimento da campanha Mexeu com uma, mexeu com todas.

Não há nada de inocente na piada machista, racista ou em quem tenta fazer rir se valendo de ataques rasteiros contra minorias. Quem rir desse tipo de piada jamais será solidário às vitimas de assédio. Vai acabar por rir de cenas de estupro, espancamento,  linchamento etc.

Não existe graça em piada escrota. Toda discriminação deve ser penalizada, todo e qualquer preconceito condenado. Cadeia para os racistas.

O mundo mudou, disse José Mayer, mas só percebeu quando se viu encurralado. Mesmo assim adotou um discurso escorregadio. Não quis ofender, agredir ou desrespeitar, mas tem consciência que fez as três coisas e muito mais. Avançou o sinal e foi parado no grito. Melhor para ele, pois podia ter ido longe demais e acabar preso. Quem passa a mão hoje, amanhã pode forçar uma situação e fazer uma besteira imensa.

Errei, admitiu, mas continuaria errado se não fosse desmascarado, se o mundo não tivesse mudado, se as mulheres não estivessem saturadas e dispostas a gritar seus direitos e exigir respeito: Mexeu com uma, mexeu com todas.

Já falamos aqui sobre o estereótipo de idoso adotado nas novelas. Sobre idadismo, o machismo disfarçado dos personagens (masculinos e femininos) que acaba por confundir telespectadores e artistas com um tipo de idoso que se imagina detentor da pedra filosofal. O eterno jovem que só cai na real quando confrontado com a realidade.

Dona Rede Globo e seus autores deveriam ter mais cuidado ao criar seus personagens. O mundo mudou. Se as novelas dessem bons exemplos, educassem, José Mayer teria percebido essa mudança bem antes.

Mário Lucena

Jornalista, bacharel em Psicologia e editor da Portal Edições, editora do Portal do Envelhecimento. Conheça os livros editados por Mário Lucena.

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