A arte de morrer: questões pertinentes

A arte de morrer: questões pertinentes

Assim como nos filmes, na vida real estamos sempre tentando “driblar” a Morte. Mas nós sabemos que esta tentativa é vã. Não querer falar sobre ela não a afastará de nossas vidas. A Morte é universal. Ela expressa de forma clara que você tem um encontro marcado com ela. 

Nazaré Jacobucci (*)

Antonius – Nenhum homem pode viver com a morte e saber que tudo é nada
Morte – A maioria das pessoas não pensa nem na morte ou no nada”.  
(Filme O Sétimo Selo – Ingmar Bergman)

Estou fazendo um curso, sobre a morte e o morrer, com um conteúdo muito interessante que tem me posto a refletir sobre as questões que permeiam a arte de morrer. Uma das atividades foi sobre a contribuição dos filmes para reflexão sobre esta temática. Tínhamos que escolher dois filmes: um clássico e um moderno. Eu escolhi O Sétimo Selo e Encontro Marcado para compor a minha análise. Minha escolha se deu por considerar ambos os filmes interessantes.

Em O Sétimo Selo, Antonius Block é um cavaleiro que retorna das Cruzadas para uma Suécia devastada pela peste negra e pela Inquisição promovida pela igreja católica. Contudo, ele também tem um encontro marcado com a Morte. Porém, para ganhar tempo, ele rejeita o fim da sua existência. Ele, então, desafia a morte para uma partida de xadrez, com o objetivo de driblá-la.

Em Encontro Marcado, o empresário e milionário William Parrish está prestes a completar 65 anos; sua filha mais velha Allison Parrish está organizando uma glamorosa festa para celebrar a data. Porém, William também está prestes a se encontrar com a Morte. Ele recebe a visita de um belo rapaz, Joe Black, que contraria as personificações tradicionais da Morte, geralmente retratada como sombria. Joe faz uma proposta inesperada a William, ele propõe lhe conceder alguns dias a mais de vida e em troca William deve lhe mostrar um pouco da como nós humanos compreendemos e experenciamos a vida. William aceita o acordo, afim de ganhar um pouco mais de tempo junto às filhas, ter a chance de despedir-se delas e corrigir alguns erros do passado.

Você já parou para pensar que nós também estamos contracenando com a Morte todos os dias? Diariamente jogamos uma partida de xadrez com ela e, por mais exímio conhecedor de xadrez que possamos ser, ela ao final da nossa existência sempre vencerá a partida. Por isso, algumas perguntas me parecem pertinentes, mas raramente as fazemos.

Na era moderna e tecnológica podem os profissionais da saúde prever ou diagnosticar o morrer?

Podemos “controlar” a morte? A que custo podemos adiar nosso encontro com a Morte?

Convido você a sair um pouquinho da sua zona de conforto para um fazer um exercício de imaginação – Imagine que você está com uma doença gravíssima sem possibilidade terapêutica de cura.

Como você gostaria de ser tratado? Você gostaria de morrer ligado a tubos e máquinas – afinal tudo pode ser feito para salvar a sua vida –  ou em casa com todas as medidas de conforto para seu o corpo e mente?

Quais são, de fato, as coisas mais importantes a fazer quando uma pessoa está seriamente doente e com probabilidade de morte eminente?

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Como a partida será inevitavelmente vencida pela Morte

Tenha um plano sobre o que você gostaria que fosse feito. Você gostaria de ser enterrado ou cremado? Ou você pode querer doar seu corpo para um laboratório universitário. Conte para alguém seu desejo de morte. Apenas 25% das pessoas manifestam isso ainda em vida.

A maioria das mortes, cerca de 70%, ocorrem por doenças crônicas ou doenças inesperadas. Por isso, expresse em um testamento o que você gostaria que fosse feito em termos médicos. Você quer morrer em casa ou num hospital? Se você não deseja que nenhum procedimento invasivo seja realizado, manifeste seu querer.

Infelizmente, cerca de 60% da população não conversam o suficiente sobre a morte e muito menos manifestam seus desejos.

Em suma, assim como nos filmes, na vida real estamos sempre tentando “driblar” a Morte. Mas nós sabemos que esta tentativa é vã. Não querer falar sobre ela não a afastará de nossas vidas. A Morte é universal. Ela expressa de forma clara que – não importa quem você é, onde você mora, qual é a sua profissão, o quanto você possui de dinheiro – você tem um encontro marcado com ela. No final, os filmes nos revelam que não é possível nem mesmo para um Cavaleiro ou um poderoso Empresário vencer a Morte.

Referências
Canto dos Clássicos https://www.cantodosclassicos.com/o-setimo-selo-1957-resenha/
CareSearch. Dying Learn. Death and Dying (online)

(*) Nazaré Jacobucci – Psicóloga Especialista em Luto. Especialista em Psicologia Hospitalar. Psychotherapist Member of British Psychological Society.  Blog Perdas e Luto: https://perdaseluto.com/author/nanajacobucci/

 

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