Alzheimer: que remédio?

Alzheimer: que remédio?

O vídeo “Que Remédio” é, aparentemente, uma comédia, mas denuncia o descaso e falta de preparo de atendentes de drogarias e farmácias no país: um idoso portador da Doença de Alzheimer tenta comprar um medicamento e acaba vítima do despreparo e impaciência do balconista. Parece exagero? Infelizmente não.

 

As recentes pesquisas na medicina contribuem para que, a cada década, a expectativa de vida aumente significativamente. Contudo, essa elevada expectativa de vida traz consigo doenças vistas na velhice que são tratáveis, porém incuráveis na maioria das vezes. Esse é o caso da Doença de Alzheimer, uma grave patologia em que a pessoa perde gradativamente suas funções cognitivas (como memória e linguagem).

As medicações têm o intuito de retardar o processo de morte das células cerebrais, visando dar mais qualidade de vida tanto para o paciente quanto para sua família e cuidadores. Isso, porém, não é duradouro e não interrompe seu desenvolvimento. O mais comum e mais conhecido sintoma é a perda de memória, que é normalmente referido às demências em geral (embora existam casos sem danos significativos na memória).

Também é de conhecimento comum que a perda de memória seja algo inevitável no processo de envelhecimento, causando dificuldades de adaptação do paciente. É algo intensificado quando se fala de Alzheimer, pois não só “desconfigura” a memória, mas tem alterações comportamentais, como por exemplo: desorientação espacial e temporal, apatia, irritabilidade, agressividade e depressão.

Com o desenvolvimento da doença e com a aparição gradativa desses sintomas, em muitos casos, o paciente não consegue realizar atividades rotineiras básicas, necessitando de apoio na maior parte do tempo. É aí que tanto famílias quanto cuidadores entram para ajudar.

É algo que vemos de forma satirizada em várias redes sociais, principalmente em vídeos no Youtube. Trazemos, como exemplo, o vídeo de humor intitulado “Que Remédio?” (https://www.youtube.com/watch?v=n9iTaU498d4) do canal “Parafernalha”. Nele, os atores Sílvio Matos e Lucas Salles contracenam em uma farmácia. Sílvio é um cliente, que já chega na farmácia não lembrando o que foi comprar. Já Lucas Salles faz o papel do farmacêutico, que tenta descobrir qual remédio que o idoso foi comprar.

Pelos sintomas de esquecimento, o farmacêutico lhe pergunta se é para Alzheimer. O cliente concorda e logo depois esquece que tinha concordado e o que estava fazendo lá (pode-se observar aqui o comprometimento de memória de curto prazo, em que não é raro que a pessoa esqueça que, por exemplo, acabou de comer, e logo pergunta o que tem para o jantar). Ele tenta dar o dinheiro duas vezes, e então se esquece de que o remédio que havia acabado de comprar estava na sua mão.

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Depois de tomar o remédio ele se lembra do que foi fazer: comprar um remédio de dor de cabeça. Até isso ocorrer percebemos uma enorme inocência no comportamento do idoso, quando quer dar o dinheiro duas vezes, quando toma o remédio sem nem saber do que se tratava, quando comprou algo que não lembrava para que precisava.

Mesmo que isso seja mostrado de forma satirizada em um vídeo de humor, não podemos deixar de concordar que, infelizmente, essa é uma situação possível e frequente e que pode acontecer com qualquer pessoa vítima da Doença de Alzheimer. Por isso, é importante reforçar a importância que tem os familiares e os cuidadores nesse momento, com todo o preparo necessário.

A reação do farmacêutico quando o personagem de Sílvio esquece o remédio é como a maioria das pessoas reage quando não têm preparo para lidar com tal situação. Ele pergunta “o senhor está nervoso?” E a reação final foi pegar o copo de água para fazê-lo tomar logo o remédio e não irritá-lo mais.

O vídeo retrata então a realidade, expõe a dificuldade enfrentada por todos com pacientes nessas condições, considerando que com a evolução da doença o idoso irá necessitar de ajuda para os afazeres mais básicos. Cabe então frisar a importância do conhecimento de todos os aspectos que envolvem a doença, além das limitações para aqueles que cuidam, para aqueles que estão por perto e para os familiares.

A falta de paciência é inevitável em um dado momento do desenvolvimento da doença. A reação mais comum é aquela que vemos no vídeo, onde o farmacêutico age por impulso e acaba dando o remédio sem receita ou diagnóstico. Nesse momento, um psicólogo pode atuar na orientação para aqueles que estão envolvidos no trato diário com o paciente e amenizar a situação.

O psicólogo pode exercer um papel ativo na rede de proteção para a população idosa em situações vulneráveis. São profissionais que trabalham pela qualidade de vida, busca de possibilidades, promoção de cidadania e saúde, propondo que cuidadores e familiares tenham mais conhecimento e capacidade para cuidar, visando sempre o enfrentamento das vulnerabilidades que vão gradativamente vindo à tona.

Concluindo então, que não só o paciente, mas também todos ao seu redor são afetados e sofrem com a doença e é de extrema importância maior conhecimento sobre o assunto, pois é uma doença cada vez mais presente na sociedade e é necessário estar preparado para lidar com a situação.

Escrito por Roxane Pirro – Aluna do curso de graduação de Psicologia, da Pontifícia Universidade Católica – PUCSP, 5º semestre. Email: [email protected]. Ruth Gelehrter da Costa Lopes – Supervisora Atendimento Psicoterapêutico à Terceira Fase da Vida. Profa. Dra. Programa Estudos Pós Graduados em Gerontologia e no Curso de Psicologia, FACHS. Email: [email protected]

Ruth G. da Costa Lopes

Psicóloga, mestrado em Psicologia Social pela PUC-SP e doutorado em Saúde Pública pela USP. Atualmente é professora Associada da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo na Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Gerontologia e Psicogerontologia, atuando principalmente nos seguintes temas: processo de envelhecimento, psicoterapia em grupo para idosos, velhice e família. E-mail: [email protected]

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Psicóloga, mestrado em Psicologia Social pela PUC-SP e doutorado em Saúde Pública pela USP. Atualmente é professora Associada da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo na Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Gerontologia e Psicogerontologia, atuando principalmente nos seguintes temas: processo de envelhecimento, psicoterapia em grupo para idosos, velhice e família. E-mail: [email protected]

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